A viagem do Rio
de Janeiro – Brasil até Ushuaia – argentina, ida e volta, não é algo fácil e
também não é um mero passeio para qualquer um fazer. Conheci algumas pessoas
que preferem chamar de expedição e que ficam ofendidas quando se utiliza outro
nome para se referir a tal empreitada. Por mim quanto faz, pode chamar de
passeio de moto, não tem problema.
Foram cerca de
dois anos planejando e minha ideia não era viajar sozinho, se bem que adoto
aquela filosofia de que “antes só do que mal acompanhado”. Na Firma onde
trabalho tenho vários amigos e colegas que possuem motos grandes e
Harley-Davidson, tais como o André, o Silvio, o Collaço, o Chedid que estão no
grupo das Harley e o Curcio, que possui uma Super Teneré 750cc, bem como tenho
outros amigos, também servidores públicos na esfera federal que possuem motos
grandes, tal é o caso do Wilson. Claro está que convidei e insisti, mas meus
amigos ainda não estão muito chegados a pegar uma longa estrada, preferindo mais
rodar pela parte urbana do Rio de Janeiro. Se bem que eu acredite piamente que
é muito mais seguro uma estrada do que vias urbanas de uma grande cidade, nem
todos compactuam com minha opinião. Meu amigo Curcio esteve do meu lado nestes
cerca de dois anos nos quais planejei a viagem e dando 110 por cento de certeza
que iria comigo, de modo que, inicialmente pensava que faria uma viagem a dois.
Fizemos juntos duas viagens a São Paulo para comprar coisas para a viagem e
dividimos as incumbências sobre o que cada um iria levar para a possível
manutenção da motos, isto para não onerar muito e sobrecarregar a bagagem de um
somente. Infelizmente, poucos dias antes da data prevista ele desistiu alegando
que seria muito perigoso para dois somente, que o rípio estava em muito mau
estado de conservação e que a 40 km por hora seria loucura passar por lá, me
deixando sozinho e fazendo com que eu tivesse de comprar as pressas mais
algumas coisas, que estariam na incumbência dele levar.
Não que eu
queira viajar sozinho, procurei companhia para esta aventura, mas não vou
deixar nunca de fazer as coisas que quero por não ter alguém que me faça
companhia e antes prefiro ir sozinho do que na companhia de quem não conheço
bem. Em verdade, não é que eu queira ser, mas acabo sendo, um pouco lobo
solitário. Não é a toa que estampei nas costas de meu casaco jeans preferido
para usar quando piloto minha moto, um lobo muito bonito.
Foram dois anos
pesquisando e sabia muito bem sobre os riscos e os perigos de tal aventura,
ainda mais sozinho, no entanto, mesmo podendo acontecer alguma coisa de ruim,
pior seria ter tudo planejado e não ir adiante. Para ser sincero, podemos
morrer até mesmo sentados vendo tv em nossa casa e a pior morte não é a física
e sim a outra. A maioria das pessoas que transitam entre nós, apesar das
aparências em contrário, já morreram há muito tempo e esqueceram de enterrar os
corpos. Continuam trabalhando, comendo, dormindo e não sabem ou não querem
saber que já morreram há muito tempo. É simples, morremos quando não estamos
mais vivos, quando não vivemos mais a nossa vida, quando não vivemos com prazer
e intensamente tudo o que fazemos, quando não mais sonhamos e nos propomos a
realizar nossos sonhos.
Eu diria que o
pior não é sequer o rípio, se bem que este não é nada bom, mas em poucos anos
não mais existirá. O pior mesmo é o clima louco da Patagônia, os ventos extremante
fortes, as chuvas e o frio. As mudanças climáticas são muito rápidas e o clima
inconstante, não facilmente previsível.
Visitar Ushuaia,
para mim, somente de Harley-Davidson Tudo bem que com uma Big Trail seja mais
seguro, mas que graça há? Deixe a Big e vá em um Big avião que encontrará mais
segurança, isto te garanto. A sensação de estar montado em um forte motor de
uma Harley-Davidson não se compara a pilotar outra moto. Quanto ao rípio, eu já
enfrentei situações piores, se bem que seja verdade que eu estava com outras
motos mais apropriadas para o terreno, no entanto, lembro-me bem quando estava
em uma reserva indígena no interior do Estado do Pará, em Apiterewa, e
utilizei-me de uma moto 300cc para ir até um pequeno povoado, percorrendo por
vários quilómetros e embaixo de forte chuvas, estradas feitas para animais
passarem ou no máximo carros 4x4 com a tração ligada, atravessando várias
pontes sobre rios, pontes estas formadas unicamente por um tronco de madeira
serrado ao meio e colocado de modo que cada metade dava para o carro colocar
uma de suas rodas e eu com a moto tinha para mim somente uma metade de tronco
para minhas duas rodas passarem sem possibilidade de apoiar o pé sobre alguma
coisa. Não desmerecendo a dificuldade, afinal de contas, uma Harley não foi
feita para o rípio e eu comprei uma moto para estradas boas e asfaltadas, não
tendo o menor interesse em off road, mas esta moto é como um trator, sozinha
ela não cai, pode até ser derrubada, pela imperícia do piloto ou pelas péssimas
condições do terreno a ser enfrentado. Com todo o respeito pelas outras motos,
pelas fantásticas big trail e pelas genéricas, hoje eu entendo bem uma frase
que antes eu escutava e realmente não entendia seu real significado: “Harley é
Harley”.
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