Vigésimo sexto dia:
Bahia Blanca, Argentina
Sétimo dia da
volta ao lar.
21 de setembro
de 2014 – Domingo
Total até agora
= 9.598,7 Km
Total hoje = 0 Km
Levantei cedo
como de costume e me preparei para sair, paguei o hotel e desci com as coisas
para colocar na moto, mas esta não quis pegar e não havia no hotel ou em
qualquer lugar alguém que soubesse como me ajudar, pois, além de domingo, hoje,
21 de setembro, é o início da primavera e aqui há a tradição de comemorar o
início da primavera com churrasco entre os amigos, saída para passeios, shows,
etc.
Fui ao posto YPF
aqui do lado do hotel e comprei por 125 pesos um cabo feito na China para fazer
ponte com um carro e dar carga na bateria, técnica que funcionou bem antes.
Consegui um hóspede que me ajudou ligando o seu carro a minha moto pelo cabo,
mas não funcionou. Busquei ajuda no posto de combustível aqui do lado e os
funcionários se mostraram muito prestativos ligando para vários amigos e
conhecidos mecânicos, eletricistas e donos de oficina, mas em virtude de ser
domingo e das comemorações pelo início da primavera, não obtiveram êxito em sua
busca. Ao retornar ao hotel, pedi a funcionária Fernanda que me ajudasse e esta
também telefonou para vários conhecidos e mandou mensagens pelo celular, até
que conseguiu um, Mariano, que respondeu positivamente e veio de carro ao hotel
com o filho pequeno e um amigo me ajudar.
Não acreditando
que o problema fosse à bateria, fez vários testes e também tentamos dar carga
com o cabo, após muito tempo, acabou se convencendo que a bateria estava com
problemas, mas acreditava que não encontraria outra aqui em Bahia Blanca,
somente em Buenos Aires e que hoje, domingo e com as comemorações do início da
primavera, pior ainda. Por fim, descobriu que o cabo que eu comprei não funcionava,
pois, não passava corrente e com minha autorização, desmontou e montou
novamente o cabo, de modo que agora tinha certeza que a corrente passava, mas a
carga da bateria estava muito baixa e não pegou. Saímos juntos no seu carro
para ir a alguns grandes estabelecimentos, como o Walmart, na tentativa de
conseguir alguma bateria de moto que servisse pelo menos para chegar a Buenos
Aires, mas não achamos. Já por volta de quase 13:00h. se propôs a levar minha
bateria para dar uma carga em sua casa, traria carregada no final da tarde, só
que está escurecendo por volta de 19:00h. e são mais de 700 km até Buenos Aires
e eu não consigo enxergar bem a noite para dirigir ou pilotar, de modo que,
preferi deixar para amanhã, pois, hoje não havia mais nada para fazer. Antes de
ir, sabendo que amanhã não poderia me ajudar em virtude de compromissos de
trabalho, conseguiu acertar com um amigo para amanhã pegar minha moto aqui no
hotel com um carro e levar para a oficina para tentar consertar ou pelo menos
fazer pegar e permitir a chegada a Buenos Aires. Hospedei-me novamente no hotel
e depois a funcionária Fernanda ligou para meu apartamento para me informar que
amanhã às oito da manhã passaria o carro para levar a minha moto até a oficina.
Apesar de muita insistência minha, Mariano recusou-se a receber qualquer
pagamento e ainda queria que eu aceitasse participar das comemorações da
primavera com ele e sua família comendo um churrasco que faria em sua casa, mas
educadamente recusei. Impressionante como os argentinos que encontro durante
todo o transcorrer desta viagem são educados, prestativos e querem muito
ajudar, alterando mesmo suas atividades normais, parando tudo que estão
fazendo, para prestar ajuda a este viajante do Brasil. Nota dez + para este
povo que faz minha estada aqui ser tão gratificante.
Fiquei triste. Não
sei as consequências que este problema poderá ter no prosseguimento desta
viagem de moto, mas pelo menos consegui chegar ao meu destino e este problema
ocorreu na volta e não na ida. Tenho de repensar estratégias para viagens muito
longas, pois, o desgaste do veículo após mais de 7.000 quilómetros rodando sem
parar é muito alto e por mais que possamos nos precaver, não é possível saber o que exatamente dará defeito ou precisará ser
reposto e não é possível levar uma segunda moto desmontada para peças de
reposição, mas mesmo se fosse, ainda necessitaria de alguém com conhecimento
técnico especializado capaz de desmontar e montar a moto após identificar
corretamente o problema e sua solução. Com um carro de apoio poderia levar mais
coisas, mas além de encarecer mais a viagem, persistiria a questão de levar uma
segunda moto desmontada e alguém com conhecimento técnico em reparação, o que
não é algo facilmente praticável.
Após este longo
percurso, tenho este problema com a bateria e o pneu traseiro já está
apresentando um desgaste acentuado na banda de rodagem, de modo que precisará
ser trocado. Eu pensava em fazer uma revisão e trocar o óleo, a bateria e
também o pneu traseiro na concessionária Harley-Davidson em Buenos Aires ou em
alguma grande oficina própria para tal nesta cidade, mas a situação está
complicando meus planos iniciais. Quanto ao óleo do motor, apesar da
quilometragem rodada e de ter somente completado e nada mais, mostra-se com
viscosidade adequada e penso que daria para retornar ao Rio de Janeiro – Brasil
sem maiores problemas, o mesmo já não posso dizer sobre o pneu traseiro, cujo
desgaste me preocupa em virtude do inúmeros quilómetros que ainda faltam até
poder chegar a minha casa, ao meu lar.
Como não tinha o
que fazer, dormi um pouco para relaxar e após, fui ao shopping aqui perto
almoçar no McDonald’s por 55 pesos um combo de Big Mac com batata-fritas e
Coca-Cola. Faça as contas para ver quanto isto dá. Converta o Real em dólares e
depois o dólar em pesos pelo cambio de um dólar igual a 14 pesos.
Aliás, falando
em cambio, não vale a pena vir hoje à Argentina trazendo pesos do Brasil e
mesmo Reais ou cartões de crédito. Praticamente as pessoas e estabelecimentos
ainda não usam cartão de crédito, pelo menos não igual ao Brasil e tudo é
preferivelmente ou unicamente pago em dinheiro vivo. Fico espantado quando vou
abastecer a moto e o frentista tira de seu bolso uma carteira com quatro a seis
centímetros de largura só de dinheiro em notas, para me dar o troco. Nunca
tinha visto isto, nem na época em que no Brasil os postos de combustível não
aceitavam cartões de crédito.
O peso na
cotação oficial está a oito e alguns centavos por cada dólar, mas isto é uma
fantasia, ninguém trabalha mesmo com o peso a este preço em relação ao dólar.
No interior da Argentina, pelos lugares onde passei, normalmente se faz o
cambio a 10 pesos por dólar, mas já me ofereceram a 12 em vários lugares.
Minhas últimas trocas de dólar por peso foram todas a 14 pesos por dólar.
Existe o blue, que é o mercado paralelo do dólar e neste o dólar está custando
14 pesos e alguns centavos, mas já me informaram que em Buenos Aires se
consegue trocar a mais de 15. Pelo que escuto aqui, parece que o melhor lugar
para trocar, após pesquisar os melhores preços, é na cidade de Buenos Aires em
lojas localizadas no térreo, evitando-se por segurança subir para outros
andares quando for fazer a troca.
Um lanche no
McDonald’s composto por um combo de Big Mac, coca-cola e batatas fritas sai por
55 pesos, à maioria dos bons restaurantes onde tenho jantado, restaurantes com
um bom nível e bom serviço, também uma decoração bonita e de bom gosto,
servindo uma refeição acompanhada de vinho e água mineral com gás para uma
pessoa tem me saído a cerca de 150 pesos. Os bons hotéis, de um padrão elevado
e bom gosto, em cidades maiores ou turísticas, tem me saído por cerca de 600
pesos, já em cidades menores, sem vocação turística e apesar de terem um padrão
bom, serem mais simples, tem me saído por cerca de 400 pesos. Resumindo, para
nós brasileiros, hoje, está saindo de graça às coisas aqui na Argentina.
Lander Moraes
ResponderExcluir19 de set (Há 2 dias)
para mim
Bom dia,
Mandei a postagem abaixo. Caso não apareça pra vc, tô mandando para vc mesmo publicar.
Abç,
Agora sim posso perceber o estilo Dr Silvério de escrever, não é apenas um diário de bordo e sim uma abordagem humanista da expedição e uma análise das motivações e desmotivações que levam uma pessoa a seguir um sonho ou desistir deles antes mesmo de começar. Espero poder ler no Blog outras considerações como esta que nos mostra realmente como é enfrentar esse tipo de desafio ou outro qualquer que a vida nos apresenta. A propósito, gostai da propaganda da Harley, me deu até vontade de comprar uma, só não esqueça de cobrar o "jabá" deles quando vc for tomar aquele café no 0800 lá na loja da Barra. Abç
Nobre amigo e mestre Silvério, como é prazeroso poder acompanhá-lo em sua grande aventura, mesmo que apenas de forma textual e fotográfica. Fico encantado não somente com os fatos narrados, mas também com sua bravura em enfrentar sozinho tantos desafios e possibilidades para concretizar mais um dos seus sonhos. Meus parabéns por mais esse feito! Estou na torcida para que consiga arrumar sua pantera vermelha e que viaje em segurança no retorno ao seu Rio de Janeiro que tanto ama. Abraço forte do seu fã!
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